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26.4.17

O Cherne.

Ficar fechado é ficar burro. Não ouvir os outros e as suas histórias é cultivar ignorância. Achar que sabemos tudo é meio caminho para sermos conhecedores de nada.

Poesia barata nascida de uma conversa simples com a peixeira, ontem. Quando me apeteceu experimentar pela primeira vez cozinhar atum fresco. Este...


Mas continuando, para não me afastar do que me inspirou a uma nova rubrica para este meu espaço de coisas minhas. Cheguei à banca do peixe, repleta de peixe fresquinho, na sua maioria ali da lota de Peniche e dei logo de caras com dois peixes imensos, prateados, de olhos esbugalhados e cintilantes e língua inchada como um balão de água cor de rosa.

Sim, este é o momento em que vegetarianos e impressionáveis devem retira-se e para outras leituras que não este post.

"O que aconteceu àquele peixe?"
"Olhe, também aprendi há pouco... O cherne é um peixe que vive na profundidade do mar e que quando é pescado, vem muito rápido à superfície, e incha-lhe a língua e os olhos."
"Ahhhh!!! Interessante. Estamos sempre a aprender."
"Eu que o diga, que trabalho nisto há tantos anos e não fazia ideia. Ensinou-me um pescador que esteve aqui há pouco."

Não é bonito pensar que devido à diferença de pressão do fundo para a superfície do mar, enquanto é pescado, o cherne provavelmente asfixia na sua própria língua e já chega morto cá acima. Nem poderia haver nada de bonito na morte de um ser vivo. Porém, a história e a evolução fez de mim um ser humano, daqueles omníveros sem remorsos, mas que têm o maior respeito pela vida e pelos seres vivos que me alimentam. É com esse respeito que cozinho todos os alimentos porque é o mínimo que posso fazer para celebrar o que a natureza me oferece. Agradecendo por ser uma sortuda e ter, sempre que quero, comida na mesa e a barriguinha saciada.

Também assim, pareceu-me uma excelente ideia partilhar conhecimento sobre o que comemos. De uma simples conversa com a querida peixeira acabei por me lembrar que sei imensas coisas sobre alimentos que merecem ser partilhadas com os geeks da comida, como eu.

Fonte: Oceanário

Ora, hoje, aprendemos que o cherne vive de 200 a 400 metros de profundidade e que quando pescado por "super canas de pesca" (carretos eléctricos muito rápidos), a diferença de pressão é tão grande que ocorre o aumento de volume da língua e dos olhos do peixe. Daí que os possam encontrar na banca do peixe num estado que parece ter sido retirado dum filme de terror mas são assim que as coisas acontecem e não vale olhar para o lado.

Outra coisa que também é informação de maior importância... o preço por quilo é de cerca €25 (pode chegar a mais), sendo que uma posta é coisa para chegar aos €10 facilmente. O que o torna um daqueles peixes perfeitos para fazer em casa porque num restaurante a coisa encarece. Em Sesimbra já chegámos a pagar €25 por uma posta e uma saladinha de pimento. É um peixe delicioso, de carne branca e textura semi-firme... até os pouco fãs de peixe o vão adorar. 

Estando aí algum pescador que nos queira ensinar mais qualquer coisinha sejam bem vindos e contem-nos tudo. 

Parece-vos bem aprender mais coisas, umas mais giras que outras, sobre o que comem?

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