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13.9.11

Ousar Pertencendo
Tal como estas flores de beleza intensa, delicadas e imprevistas, ocorrem-me por vezes sensações, impressões de coisas belas.

O que me gozavam as outras miúdas da escola (e com toda a certeza também os rapazes) por eu não calçar as botas “All Star” bege que toda a escola usava.

A questão não era monetária. Apesar de me lembrar perfeitamente de achar um exagero os contos que pediam por uns míseros ténis de sola de borracha e lona, e que ainda por cima toda a gente iria usar.

Herdara da minha tia o conhecimento da beleza dum bom sapato. Aquele que se reconhece a qualidade pelo cheiro da doce pele, pela certeza de ter sido cozido à mão e pelo deslizar da sola de madeira envernizada nas carpetes vermelhas das sapatarias, Por esses sim, valeria bem pagar uns milhares de escudos.

E era precisamente com uns desses que eu desfilava pela escola. Uns mocassins de pele pretos que fazia questão de usar com collants de mousse e mini-saia de pregas de xadrez. Sim mini-saia!!! Mais uma razão para aquele grupinho de ovelhas dar umas gargalhadas. Muito poucas eram as que ousavam usar saia naquela altura. Adormeciam, acordavam e viviam com as Levi`s coladas às pernas.

Cheguei a experimentar os All Star da minha prima Filipa (que tinha os dois pares da moda, os beges e os azuis). Mas quando os calçava não me sentia eu…não tinham a ver comigo. Sentia como se tivesse vestido uma farda. Ainda por cima não eram ténis nada lisonjeiros. Estreitavam e alongavam o pé. O que, ficava lindo nas perninhas de alicate que eu tinha.

Porque estava na bela fase da adolescência, em que tudo é uma questão existencial, questionava-me se não deveria seguir o rebanho. Mas era uma questão de alergia. Por mais que tentasse não conseguia. Aquele seguir de forma cega a moda dava-me cá umas comichões…
O mais engraçado em que por diversas vezes as punhaladas que eu dava à moda daquele presente se tornavam a moda de futuros mais ou menos distantes.

Hoje do alto dos meus “a menos de um mês de fazer 30 anos” agradeço a mutação nos “genes estéticos” que me constituem. Genes saltitantes sempre um pouco à frente do seu tempo. Genes que comunicam comigo por impressões de beleza.

Olho para aquele verniz e não resisto a comprá-lo. Não é o último grito da moda, uso-o durante duas semanas, volta à caixa da manicura e volta a sair passado uns tempos quando de dentro da caixa me grita “Usa-me! Usa-me! Estou super na moda.
São estas pequenas impressões que surgem como papoilas vermelhas em campos completamente verdes. Sensações tão efémeras e delicadas quanto as tendências que hoje estão lá mas que amanhã já o passar do tempo as terá levado…

Admito que se fossem hoje aqueles tempos eu arriscaria usar os All Star com as collants e mini-saia de xadrez.

Hoje sei que pertencer é quase tão importante como ousar.

Tem dias em que só ouso. Aqueles, em que não me apetece seguir nenhuma das tendências da estação. Dias em que só pertenço. Aqueles em que a paciência é pouca e torna-se mais fácil, na hora de vestir, fazer um look cópia da Vogue. Mas na maioria dos dias ouso pertencendo.

Na prática os meus looks, ou os looks de quem aconselho, baseiam-se na aquisição de peças de vestuário, sapatos, malas e acessórios em lojas diferentes. As boutiques de rua, as lojas de segunda ou terceira mão, as Zaras, H&Ms, e Primarks, as bancas das feiras, as retrosarias...

Assim, conseguimos um look na moda mas sem parecer que somos modelos de catálogo de uma marca.

Não tenho a pretensão de ditar tendências (já há quem tão bem o faça) mas permitam-me partilhar convosco impressões de uma papoila.

Coisas bonitas, que quem sabe, poderão servir-vos de inspiração para sozinhos ousarem pertencendo.

2 comentários:

anabela disse...

Olá papoila!
o que é que te posso dizer, que te vejo e revejo no que escreveste, a menina bonita que é hoje uma mulher linda, sempre "tão bem" em todas as ocasiões, seja numa festa ou numa ida ao supermercado!
Sempre diferente e sempre na moda, a sua moda!
Anabela

Dream Girl disse...
Este comentário foi removido pelo autor.