Grande vitória deste e daquele partido, aí tão bom que partidos de cores diferentes se juntaram para aprovar uns quantos projectos para concretizar o sonho de mais mulheres que não conseguem ter filhos, são tão bons samaritanos... falsos e hipócritas são o que são!!!
Eu adorava ficar feliz com esta notícia com este suposto evoluir de mentalidades mas tenho grande dificuldade em me sentir feliz quando a realidade sobre as técnicas de procriação medicamente assistidas em Portugal é uma vergonha!! Pelo menos para quem na conta bancária apenas tem o suficiente para as despesas do mês e eventualmente o arranjo do carro, desde que isso não inclua mudar os 4 pneus ao mesmo tempo.
Não posso falar da experiência das mulheres e homens que se deparando com uma situação de não conseguirem ter filhos passam um cheque de milhares de euros a uma clínica de fertilidade e em menos de 2 meses já estão na fase das tentativas. Tentativas que podem, e muitas vezes, não resultam em bebés mas pelo menos não tiveram que esperar 4 anos para começar a tentar, como acontece com a maioria das mulheres e homens com problemas de fertilidade neste país.
É vergonhoso, degradante, "raivento", ter de esperar períodos de 12 meses, de cada vez, para descobrirmos que há mesmo um problema de fertilidade connosco ou para fazermos exames que demoram minutos a fazer mas que ficam parados mais 6 meses à espera de ser mostrados. Acreditem que descobrir que só conseguiremos ter filhos com a ajuda do Sr Dr, da enfermeira e dum tubo de ensaio é só uma gota de água no mar de sentimentos de frustração que nos invade nesse momento. Assim que o médico acrescenta a essa informação "bem, agora daqui a um ano marquem a consulta e logo se vê se há lugar, porque estamos com uma lista de espera de mais de uma ano."
Pumbas!!!
Mega murro Mike Tyson mesmo nas costelas!!
Longe de mim querer falar mal dos profissionais que trabalham nos serviços de apoio à fertilidade (forma fofinha que encontraram para chamar a um serviço tão cheio de pouca esperança), como os de Santa Maria. Pessoas fantásticas, amorosas e verdadeiros seres humanos de entrega total mas que não fazem mais porque humanamente não lhes é possível. São eles os portadores das notícias, que se nota que já as dão com um despegar de alma (e percebo que o façam. Senão facilmente ficariam maluquinhos por terem de transportar a dor de tantos casais), mas não é neles que caí a culpa desta situação.
Aprovem projectos excelentes como os aprovados ontem, mas tratem ao mesmo tempo de reduzir tempos de espera para as técnicas para o que é humanamente aceitável. Construam novas unidades de fertilidade, contratem mais profissionais, não sei... não sou perdidad nem achada na gestão de dinheiros públicos mas não me parece difícil perceber que algo se passa de muito errado e que definitivamente algo tem de ser feito imediatamente quando casais que não conseguem ter filhos demoram 5 anos, ou mais, para terem uma ténue hipótese de serem pais através da PMA.
Uma coisa tem de bom este processo. Chegamos a um ponto em que já não temos espaço para a tristeza de não conseguirmos ter filhos porque esse espaço é completamente ocupado pela raiva de sermos tratadas como cidadãs de quarta à espera da esmola temporal do nosso serviço nacional de saúde.
Por tudo isto, e por todo o "muito mais" que poderia ser dito sobre a realidade das técnicas de procriação medicamente assistidas em Portugal, vão-me desculpar mas não consigo sentir a felicidade suposta com a aprovação destes novos projectos.
No dia em que mulheres de todas a classes sociais e contas bancárias tiverem as mesmas possibilidades, em tempos iguais, de verem concretizado um mesmo sonho, logo festejo.
Sem comentários:
Enviar um comentário