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8.3.17

Dia M com letra grande.


Podia começar a falar deste post contando-vos a história por detrás desta foto mas para isso estão aí o google e as aulas de história moderna. Dá para perceber que um grupo de mulheres, há muitos anos atrás, se juntou e manisfestou por melhores condições. E é isto! Não considero que seja muito relevante para a celebração do dia 8 de Março que se saiba os pormenores desse primeiro 8 de Março de 1857 mas considero muito importante que o celebremos das diferentes formas possíveis... tão diferentes e diversas quanto somos nós Mulheres.

Sabem o que gosto deste dia?
Obriga-me a pensar em nós Mulheres. No resto do ano ando tão ocupada a ser mulher que só quando chega o 8 de Março paro para olhar para a condição de Ser Mulher com alma e muita consideração. Engraçado foi que hoje o meu dia acabou por ser exactamente assim... tomando consciência de como somos... tão diferentes e tão especiais.

As senhoras lá de cima pediam menos horas de trabalho (porque eram exploradas até mais não) e salários justos (o que ainda hoje é uma batalha na maioria das empresas em Portugal) mas curiosamente eu hoje fui trabalhar no meu dia de folga e fui feliz. Feliz porque estaria uma tarde a maquilhar mulheres que não conhecia, agora já conheço um bocadinho, tornando-as exteriormente mais bonitas e transformando o seu interior, como há muito percebi que a maquilhagem tem a capacidade de fazer. Hoje, não quis "mascarar" as Mulheres com grandes artíficios, trabalhos de sombras, contourings e strombings porque independentemente de não conhecer as mulheres que se iam sentar naquela cadeira de maquilhagem tinha quase a certeza que a maioria não tem tempo nem para pôr creme hidratannte de manhã quanto mais usar 15 produtos de maquilhagem e 6 pincéis diferentes.
Assim, a maquilhagem que fiz a todas as minhas, porque agora também sou um bocadinho delas, Mulheres foi a mesma e igual à minha.


Aquela que eu designo como a "maquilhagem suficiente para nos abstrair dos nossos defeitos e sobressair a nossa beleza". Ou seja, se temos uma borbulha passamos a olhar para o espelho e tudo o que vemos é uma enorme borbulha do tamanho do rosto. Ou então é aquela mancha preta horrorosa, que para os outros quase passa despercebida e que na realidade parece um sinal de meio milímetro de largura. também podem ser as rugas dos olhos que para mostrarmos às amigas como é verdade e horroroso franzimos os olhos como se o sol nos tivesse a cegar. Assim, disfarçando (não cobrindo como maquilhagem para palhaços) os nossos olhos passam a reparar noutras coisas lindíssimas em todas nós. Sim, mesmo nessas mulheres, que já estão desse lado a dizer, que são horrorosas.

Fazer maquilhagens tão simples e humanamente possíveis de realizar em 10 minutos matinais, também é uma excelente forma de criar uma ligação e confiança maiores com as Mulheres que apareceram. Lembro-me bem de visitar lojas de maquilhagem e ser maquilhada por "make up artists" (não falo da profissão falo da atitude)  e de sair de lá fantástica mas a sentir-me a maior naba do mundo. A achar que nunca ia conseguir replicar aquela maquilhagem. E saia sempre com imensas perguntas que acabava sempre por não fazer porque a maquilhadora estava tão compenetrada em mostrar-me como era a maior do mundo e o seu nariz empinado era tão proeminente que eu até tinha medo de ser desferida num olho caso abrisse a boca.

Eu sou tão pouco assim quando maquilho (tirando as situações de trabalhos técnicos muito exigentes (como algumas das minhas noivas) em que a minha concentração nos pincéis cresce um pouquinho) que hoje tenho histórias de vida que relembro de cada uma das Mulheres que sentei naquela cadeira...

A Alice uma senhora com um casamento de 19 anos que terminou em divórcio (ainda por resolver no seu coração) e que tirou o dia, (da empresa onde é sócia com o ex-marido, e onde trabalha a actual mulher do mesmo), para se mimar e divertir com o novo namorado, um homem mais velho que não a incomodava nada que assim seja. Uma mulher com uns olhos verdes tão brilhantes e fortes que não contavam o filho que nasceu nado morto e o abandono inesperado do ex no dia em que faziam 19 anos de casados. Uns olhos de brilho cheios da luz dos seus dois filhos, e dois netos, de um outro netinho quase quase a nascer em Abril e de um homem que vive a seu lado o melhor da vida. Um vidraceiro daqueles à antiga que faz coisas fabulosas. Despedimos-nos com um beijinho.

Depois vieram a Maria e a sua filha de 11 anos Camila que não gosta nada do seu nome. Teve para se chamar Camila Jorge em homenagem ao avô mas como a mãe da Maria estava muito zangada, com o então ex marido, por este ter arranjado uma namorada, acabou por ficar só Camila. Uma menina muito atenta a todos os meus movimentos e que eu sabia que ia notar até no mais ínfimo pormenor. O serão do dia da Mulher ia ser assim, como estava ser este dia, só as duas. A mãe a mimar a filha e e filha a mimar a mãe. A Camila tinha experimentado pela primeira vez uma base no Carnaval quando se mascarou de chinesa e já estava preocupada em como a iriam maquilhar na peça onde irá representar a Branca de Neve. A Maria pediu à filha para decorar os "passos da menina" para depois conseguir repetir e tenho a certeza que assim a Camila fez. Despedimos-nos com um beijinho.

A terceira mulher foi a Tatiana que me pediu desculpa pelo português não perfeito, que a meu ver era perfeito ao pé do meu inexistente Moldavo, língua mãe da Tatiana. Ensinou-me que a lingua da Rússia e da Ucrânia tinham base escandinava e que a língua Moldava e Romena origem latina. O que esclareceu o porquê de eu achar que havia uma sonoridade e até algumas palavras comuns com o português. A Tatiana tinha imensa vontade de brincar mais com a maquilhagem mas como achava que eram precisos muitos produtos e técnicas para o conseguir acabava por se maquilhar muito pouco. Quando percebeu que era tão simples conseguir um look uau!, com pouco, pediu o nome de todos os produtos que usei. No final, gostou tanto, que já nem a preocupava as manchas de tinta na raiz do cabelo acabado de pintar, e que tinha feito questão de me evidenciar mal se sentou na cadeira. Despedimos-nos com um beijnho.

As últimas mulheres foram duas duplas de amigas. As primeiras, Ana e Matilde, jovens de 20 anos, amigas recentes, cheias de energia, smartphones sempre a apitar e pouco tempo porque tinham milhentas coisas para fazer e amigos e namorados à espera. E as últimas, Ana e Mariana (sim tinham nomes parecidos), mulheres de 30 anos, amigas de longa data, noiva e futura madrinha de casamento, com tempo de sobra para estarem... bem desde que não passasse das sete horas, altura em que a Ana vai buscar a filha à escola. 
Para a jovem Ana, que ficava super chateada porque a Matilde vai para noite com ela e nem sequer se maquilha, a preocupação era fazer alergia a bases (o que não é problema quando temos pós minerais) e adorar maquilhagem. Como uma boa amiga, ainda que muito recente, incentivou a Matilde a experimentar maquilhar-se comigo hoje e passou o tempo a elogiar os olhos fabulosos da mesma. A Matilde deu depois lugar à Ana, mas não se afastou mais do espelho porque diz que "nunca tinha me apercebido que era tão bonita!" e estava curiosa pela surpresa que ia fazer ao namorado que só a tinha visto maquilhada uma vez. A Ana, a quem perguntei o tempo todo se sentia algum desconforto na pele, descobriu que afinal há batom vermelho que lhe fica bem e o nariz ENORME (como referiu mal se sentou na cadeira) deixou de ser o centro das atenções no seu rosto. Perguntou à amiga qual dos amigos dela iriam gostar mais da maquilhagem. Despedimos-nos com um beijinho.
Já das minhas mulheres trintonas (posso chamá-las assim porque também o sou) só uma ia para se maquilhar, a Mariana que tinha acabado de vir do cabeleireiro e que há noite tinha um jantar do dia da mulher. Só com a aplicação da base saltaram logo para primeiro plano os enormes e lindos olhos castanhos e nariz perfeitamente desenhado... concordámos todas que assim era e já fiquei apalavrada como a maquilhadora para o casamento ainda a acontecer este ano. Já a madrinha que "tinha experimentado há uns tempos uma série de bases numa loja e que saiu da loja com a cara a arder" sentou-se  tranquila na cadeira, onde tranquilamente lhe maquilhei a pele muito clara e nitidamente sensível... No final agarram-se uma à outra "selfie para o facebook!!!". E lá foram... A Ana que ia ver o Benfica com o novo namorado (dos seus programas preferidos), que a mãe tinha que aprovar primeiro, e a Mariana para o jantar do dia da mulher, já que nem por skipe dava para falar com o noivo porque estava em trabalho a conduzir para a Alemanha. Despedimos-nos com um beijinho.

E é isto o porquê do Dia da Mulher (diz-me o meu marido: "que grande testamento!")... Um dia que está proibido passar em branco. 
Não porque temos que receber flores ou fazer grandes noitadas com as amigas e mulheres da nossa vida mas porque temos a liberdade de fazer aquilo que nos apetecer... ao contrário daquelas mulheres, no século 19, da foto lá de cima e de ainda demasiadas mulheres, do século 21, por esse mundo fora. 
É por essas Mulheres, que fui trabalhar na minha folga, porque me apeteceu e pude escolher dizer que não. É por essas Mulheres, que sai e me apeteceu comprar um frango assado, com dinheiro que eu ganho igual aos meus colegas homens com a mesma função, porque pode não me apetecer cozinhar quando não me apetece. É por essas Mulheres, que estou há uma hora a escrever sentada no meu sofá, com a companhia do homem mais perfeito para mim (companhia de cerca de 30 minutos que antes disso foi Benfica no café), e um copo de vinho vazio que acompanhei o frango que comi à mão, porque posso, porque não tenho de parecer uma donzela. É por essas Mulheres, que optei por ficar em casa... porque pude optar e também porque ainda estou a sofrer de stress pós-traumático depois de há 5 anos ir a um "jantar" do dia da Mulher onde a aparição dos streapers foi o momento mais calmo da noite... até apalpões de mulheres de 60 anos levei...

Como já escrevi hoje noutro sitio: "Todos os dias são nossos mas hoje o dia tem M grande".

E eu adoro ser Mulher.

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