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7.6.17

Uma das duas, únicas, receitas que sigo.

Devem existir para aí uns 10 pratos que faço de forma igual sempre. E mesmo assim, de repente, só me consigo lembrar do arroz de tomate, da sopa de tomate e das ervilhas com ovos escalfados... Não sendo por isso um grande motivo de surpresa se vos disser que sou a pior pessoa para seguir receitas. Aliás, tenho livros de receitas cujas páginas nunca viram a luz do dia e não, não são bíblias da culinária são livrinhos de bolso que fui comprando nas feiras a 2€ cada. 

Já fui diferente. Em miúda lia o Pantagruel de ponta a ponta e algumas das receitas cheguei a fazer, poucas, porque a maioria falava de ingredientes que eu nem sabia que existia ou que não tinha como os adquirir porque eram caros e tudo o que eu tinha no bolso era os 100$ para o Bollicao. Apesar de pôr quase nada em prática do que lia tenho a noção que aprendi muito e só agora me apercebo como podemos aprender tanto com um livro quando lemos apaixonados por aquilo que lemos. O Pantagruel era dois livros (os das comidas salgadas e o dos doces), duma edição antiga que a minha tia tinha comprado no Círculo de Leitores e que passou lá para casa. Fiz muitos bolos mas os salgados só os pensei na minha cabeça. Do livro dos salgados aprendi técnicas super tradicionais de cozinhar, os utensílios, medidas e algumas dicas para a "dona de casa". Aprendi ainda, que não é possível fazer uma feijoada saborosa em 30 minutos, que há pratos como terrines que demoram eternidades a ficar prontos e que a maioria das marinadas deveria ser feita com 12 horas de antecedência.

Tive a fase Ana Maria Braga, e o Mais Você, quando estava na universidade e tinha tempo para ver na TV Globo, religiosamente todos os dias o tão famoso programa da manhã brasileiro. Durante 6 meses eu imprimi, da internet, todas as receitas que a Ana Maria e o papagaio Louro José ensinaram. Nessa altura, com mais dinheirinho no bolso cheguei a fazer umas quantas receitas e quase me lancei no mundo da venda de empadinha porta a porta, mas depois veio o Verão e o "negócio da empada" ficou na gaveta. Com a forma de cozinhar brasileira, aprendi a dar muito sabor à comida. Descobri a pimenta vermelha, que agora sei que não é pimenta. Aprendi a não ter medo de juntar fruta num prato salgado ou combinar ingredientes que à partida não resultariam. Também aprendi a usar leite condensado em todas as sobremesas... vício que há muitos anos deixei prevenindo uma provável vida de diabetes.

Depois a vida pôs-se pelo meio e parei de cozinhar, tanto na prática como na leitura. Cozinhar faz bem à minha vida mas só tem lugar na minha vida quando me sinto feliz e com tempo. Essa é a fase que vivo agora, desde há 6 anos... Pelo meio meteu-se o Masterchef Austrália e foi ouro sobre azul. Mesmo nos dias que não publico os meus pratos eu nunca como comida feia e o momento de cozinhar por mais curto que seja é sempre, sempre, sempre um momento de criatividade e alegria. Mesmo em dias como hoje, que me sinto doente com uma faringite a dar cabo de mim, a salada de atum que comi directamente da saladeira foi feita em 10 minutos com carinho com cuidado e com sabor. 

Como em tantas outras coisas na nossa vida, a idade mostra-nos o que queremos, o que realmente tem valor e o que já não importa na nossa vida. E isso também se aplica às coisas do dia a dia. Agora, nunca guardo receitas, tirando algumas minhas (para aí 10% delas para partilhar com amigos desesperados). Guardar para quê se não as vou ler?! Só há duas receitas que guardo e uso recorrentemente. A de Massa de Pizza que devo fazer umas 20 vezes no ano mas que nunca decoro e a de Molho de Tomate do Marco Pierre White. Esta simples mas fabulosa receita tem de ser partilhada porque os que adoram seguir receitas vão adorá-la e os alérgicos a receitas, como eu, também.

É para ser feita na época boa dos tomates, no pico do Verão. Ou durante o Inverno usando tomate-cereja porque é o único que mantém um sabor verdadeiro a tomate mesmo nos meses frios. 


E virão os puritanos da comida: "Aí que horror!! Usar polpa de tomate de conserva para fazer um molho caseiro!!" 
Eu respondo: "XIU!!! Caladinhos!! Já não há paciência para vos aturar. Reclamem com conhecimento. Se for só para parecer bonito e seguirem o rebanho da "corrente intolerante a..." é melhor ficar caladinhos. A polpa de tomate, assim como todo o tomate, de conserva português é dos melhores ingredientes que existe. São usados só os melhores tomates, no auge do sabor a tomate fresco, ali nos meses mais quentes de Verão e a conserva é feita recorrendo a métodos físicos que preservam sabor, intensificando-o, por muitos e largos meses o sabor do tomate naquele frasco de vidro ou lata. Se forem lindos meninos um dia destes conto-vos tudo."

Faço um panelão desta receita e guardo cerca de 4 sacos que vou usando. Serve para pratos pensados com antecedência de dias ou pratos decididos a 30 minutos da refeição. Adoro utilizar os saquinhos de molho de tomate maravilhosos e ter excelentes reacções ao sabor de quem o prova e dizer-lhe: "Fiz esse molho há 3 meses.". Coisas parvas que me divertem.

Se forem do tipo organizado passem esta receita para o vosso caderninho e assinalem-na com cinco estrelas. Já se forem do tipo preguiçoso e desorganizado, tirem uma foto, imprimam e ponham a folha na gaveta dos panos ou guardem só no telemóvel. Em qualquer dos casos tenho a certeza que a vão usar MUITO!



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